Páginas

.

Reunião de artigos, debates, vídeos e informações gerais em torno do livro, garimpados na rede, num só lugar, na mais completa e absoluta liberdade!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Eu li!



23/01/2012 


Fui direto à fonte. Entendo como absurdas as atitudes de gente que não leu o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., A Privataria Tucana (Geração Editorial) e aparece aqui, ali e acolá dizendo cobras e lagartos sobre a obra.


Por Wilson Correia 


A escola e a universidade deveriam servir para fazer entender que nenhum livro que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão. (Ítalo Calvino. .Por que ler os clássicos. Trad. N. Moulin. São Paulo: Cia. das Letras, 1981, p. 12). 


Interpretar as interpretações emprega mais trabalho do que interpretar os textos, e existem mais livros sobre livros do que sobre qualquer outro assunto: tudo o que fazemos é glosar uns aos outros. Há abundância de comentários, mas escassez de autores. Aprender a entender os entendidos se tornou o principal e mais celebrado aprendizado da nossa época; não reside nisso o fim último dos nossos estudos. (Montaigne. The complete essays. Trad. M. A. Screech. Londres: Penguin, 1991, p. 1212). 


Um jornalista é um homem que sabe explicar aos outros aquilo que ele próprio não entende. (Otto Maria Carpeaux. .Prosa política e filosófica de Heinrich Heine.. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967, p. 6). 


Comentar um livro sem tê-lo lido é como não ter pernas e querer integrar os pelotões da Corrida de São Silvestre. Ler apenas .livros. que falam de outros livros e se contentar em entender a interpretação dos interpretadores é como querer ver com o olho alheio. 


Por esses motivos, fui direto à fonte. Entendo como absurdas as atitudes de gente que não leu o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., .A Privataria Tucana. (Geração Editorial) e aparece aqui, ali e acolá dizendo cobras e lagartos sobre a obra. 


O título do livro (com recorte cronológico no governo FHC, 1994-2002) está explicado na página 41: .De forma mais clara, o que houve no Brasil não foi privatização mas .propinização.. A versão local da práxis foi batizada como privataria pelo jornalista Elio Gaspari, ao casar, com felicidade, os vocábulos .privatização. e .pirataria... 


Esse tema, aliás, já havia sido consistentemente desenvolvido por Aloysio Biondi na obra O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado., publicado em São Paulo pela Fundação Perseu Abramo em 1999, o qual, na página 27, afirma: .Segundo o governo, as privatizações estão trazendo dólares para o país. Na prática, elas criaram saídas fantásticas de dólares, com a ampliação do .rombo. da balança comercial e das remessas para o exterior. Pior ainda: essas sangrias podiam ser parcialmente compensadas se os .compradores. trouxessem capitais deles próprios, tanto para comprar as estatais, no momento do leilão, como depois, para realizar os investimentos previstos para a .privatizada.. Nem isso acontece, por incrível contradição da política do governo.. 


Isso é pirataria ou a nossa .privataria.. Ora, um pirata, sabemos, é aquele que cruza os mares para roubar navios. É o corsário que enriquece à custa de terceiros, quase sempre valendo-se da força, malandramente namorador do alheio e que seduz toda e qualquer riqueza para fazer-se pançudo à custa do suor que não saiu de sua própria testa. 


Foi exatamente isso o que a história conta ter havido no Brasil durante o governo FHC. E isso, antes de me preocupar com as facções envolvidas nesses ataques à coisa pública de nosso país (elas sempre são cúmplices de seus mal feitos, simulando e dissimulando amizades e inimizades), o que me levou ao livro em questão foi o interesse em saber como os homens públicos brasileiros tratam do e mercadejam com o bem comum. 


Não sei se o autor de .A Privataria Tucana. tentou explicar o que nem ele entende, mas sei, isso sim, que a cidadania brasileira e a vida republicana entre nós estão apenas engatinhando. Ainda somos barrigas verdes e muito desafio nos aguarda para fazermos desses nossos Brasis uma verdadeira nação. 


_______________ 
*Wilson Correia, Doutor em Filosofia da Educação pela UNICAMP, é Adjunto em Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. É organizador do livro .Formando Professores: caminhos da formação docente.. Rio de janeiro: Ciência Moderna, 2012.
Email:: wilsoncorreia@ufrb.edu.br
URL:: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php.id=12236


Origem da matéria


Nenhum comentário:

Postar um comentário