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Reunião de artigos, debates, vídeos e informações gerais em torno do livro, garimpados na rede, num só lugar, na mais completa e absoluta liberdade!

domingo, 4 de março de 2012

FHC não vai falar da privataria tucana


domingo, 4 de março de 2012


Por Altamiro Borges

Em seu artigo no Estadão de hoje (4), o ex-presidente FHC volta a falar sobre o lamentável leilão dos aeroportos patrocinado pelo governo Dilma Rousseff. Num texto provocativo, ele questiona as “justificativas envergonhadas por parte de dirigentes petistas, segundo os quais ‘concessões’ não são privatizações, como se ambas não fossem modalidades do mesmo processo”.


Além de tirar um sarro sobre a terminologia, o egocêntrico aproveita para se jactar dos seus feitos. Ele se acha o máximo, pensa que é Deus! Para ele, as privatizações feitas pelo seu governo “modernizaram” o país. Ele cita, por exemplo, o “obsoleto parque siderúrgico”, mas não diz que o setor foi entregue a preço de banana e que hoje o Brasil exporta ferro e importa trilhos.

Um narcisista patético 

FHC também menciona as telecomunicações como exemplo de eficiência. Talvez ele desconheça que as teles são as recordistas em reclamação no Procon. E ainda tem a pachorra de falar na Petrobras, que seu governo tentou privatizar – até gastou uma fortuna para mudar o nome da estatal para Petrobrax. Cínico, FHC até hoje nega a intenção, apesar dos documentos oficiais que provam o contrário.

Ao final, num malabarismo grotesco, FHC afirma que é o grande responsável pela atual fase de desenvolvimento do Brasil. Pena que os eleitores não perceberam esta proeza e expulsaram os tucanos do Palácio de Planalto em três eleições consecutivas. Na maior caradura, o ex-presidente rejeitado e detestado pelo povo brasileiro encerra o artigo de forma patética:

E os milhões nos paraísos fiscais?

“Os que criticam as privatizações são os mesmos que se gabam dessas empresas e de sermos hoje a quinta economia do mundo. Esquecem-se de que isso se deve em muito ao que sempre criticaram: além das privatizações, o Plano Real, o Proer, a Lei de Responsabilidade Fiscal, enfim, a modernização do Estado e da economia”.

Ao invés de se jactar dos seus feitos, FHC poderia usar o generoso espaço cedido pelo Estadão para retrucar as críticas feitas por Amaury Ribeiro no livro “A privataria tucana”. Ele poderia tentar explicar, por exemplo, como a filha, o genro e o ex-tesoureiro do seu ministro José Serra conseguiram desviar milhões das privatizações para os paraísos fiscais. FHC sabia do esquema ou não?

Origem da matéria

Mino Carta: O candidato da UDN


4 DE MARÇO DE 2012 - 6H44 

Há dez anos a mídia apresentava José Serra, candidato à Presidência da República pelo PSDB, como cidadão “preparado”. À época, meus dedutivos botões esclareceram que, segundo editorialistas, colunistas, articulistas, todos os demais candidatos eram “despreparados”, a começar, obviamente, por Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-operário metido a sebo. Dez anos depois, o cenário do quartel de Abrantes não mudou.

Publicado na Carta Capital

Os jornalões paulistas vivem em êxtase diante da decisão de José Serra de concorrer à prefeitura de São Paulo.

Parece, até, que o nosso herói se tornou ainda mais “preparado”, o próprio diz representar uma visão distinta do Brasil e da política que convém ao País, em defesa da democracia e da fé republicana, ameaçadas pelo petismo no poder. Na corte tucana, não falta quem denuncie o projeto “chavista” posto em prática pelo partido de Lula e Dilma. Deste, Chávez é o profeta. Palmas febris dos jornalões.

Qualquer partido que atue sobre esta nossa medíocre bola de argila a girar em torno do Sol visa ao poder para manter-se nele quanto mais puder. Talvez Serra tenha esquecido que, ao eleger Fernando Henrique Cardoso, o tucanato urdia o plano de permanecer na cúspide da pirâmide, a contemplar a nação do alto, pelo menos por 20 anos. Temo, porém, que o candidato tenha esquecido coisas mais. Evitarei o pieguismo de evocar as crenças que o moviam na juventude. Refiro-me, simplesmente, ao senso do real.

Hóspede da minha cozinha, há dez anos Serra mostrou-se preparado a consumir risotto ai funghi da lavra do acima assinado, tivesse mais espaço, eu declinaria a receita. De todo modo, o convidado apreciou, enquanto afirmava que em matéria de política social, se eleito, seria muito mais ousado do que Lula. Illo tempore considerava-o um amigo. Tenho motivos para entender que não perdoou a opção de CartaCapital pela candidatura do ex-operário. Salvo raríssimas exceções, os jornalistas nativos e seus patrões estavam com Serra. Como neste exato instante.

Certos apoios custam caro. Não sei, porém, se a observação no caso faz sentido. Há tempo, Serra soube insinuar-se nas graças dos patrões, em primeiro lugar destes antes que dos jornalistas. Melhor ser amigo do rei. A esta altura, admito que uma afinação perfeita se instalou entre o político e quem agora o promove, em função, precisamente, de uma invejável harmonia de ideias e propósitos. Trata-se, tudo indica, de uma convergência natural, de um acerto espontâneo. Diria mesmo fatal porque inescapável.

Serra, não menos que o mundo mineral, está em condições de registrar o óbvio: a mídia nativa representa o reacionarismo mais retrógrado e preconceituoso. Não triunfam ali os mais genuínos valores democráticos e republicanos, Serra sabe disso. E então, o que o leva a se colocar à direita da direita? Pelos atalhos da vida, às vezes os homens enterram o seu passado, honroso ou não, em nome de interesses contingentes ou de impulsos d’alma, redentores ou interesseiros.

Certo é que essa mídia a favor da treva, com extrema coerência, é preciso reconhecer, silencia, por exemplo, a respeito das denúncias do livro A Privataria Tucana, na singular certeza de que não aconteceram os fatos por ela deixados de noticiar. Os fatos, ora os fatos… No libelo do repórter Amaury Jr. há provas de mazelas vergonhosas que incriminam Serra. Vale a pena ignorá-las, contudo, a bem do privilégio na terra dos herdeiros da casa-grande. E assim queira o deus dos prepotentes e dos hipócritas.

O candidato Serra acaba de anunciar que seu sonho de Presidência da República está adormecido até 2016. Ou seja, se for prefeito, cumprirá seu mandato por completo. Fernando Henrique achava o sonho aposentado de vez, mas, já que o homem resiste, mudou de ideia. Supõe, arrisco-me a crer, que vencedor em São Paulo, o velho companheiro de tucanagens ganhará cacife para voltar à carga ao sabor do intuito supremo. Veremos o que veremos. Resta a evidência: o PSDB assumiu o papel outrora arcado pela UDN velha de guerra e José Serra figura à perfeição como seu candidato ao que bem entender.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Mandato ou Refúgio?


29 DE FEVEREIRO DE 2012 

Jaime Sautchuk *

Numa atitude raríssima, o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu semana passada processo contra um político no exercício de mandato, quando este tem foro privilegiado. O senador João Ribeiro (PR/TO) será julgado por crime de uso de trabalho escravo. Não político, portanto.
A decisão reanimou o debate sobre o uso do mandato em cargos dos Três Poderes, para escapar de crimes comuns, muitas vezes cometidos fora do mandato. Lembremos que o ex-presidente Lula, bem antes de ser eleito para o Palácio do Planalto, disse que na Câmara dos Deputados “tem pelo menos uns 300 picaretas”.  É certo que a situação já melhorou. Até recentemente, para abrir um processo contra algum parlamentar, o STF precisava de autorização do Congresso, que nunca era dada. O espírito de corpo, ou a cumplicidade, protegia os possíveis réus. O tal do rabo preso sempre teve mais valor que a dignidade. É certo que a origem desta distorção legal teve boa intenção. Saindo de uma ditadura militar em que o mandato parlamentar não tinha o menor valor, a Constituinte de 1988 carregou nas tintas e acabou criando proteção demais. Muito bandido se refugia por detrás do foro privilegiado. No caso do senador João Ribeiro, que tem vários outros delitos no seu prontuário, seu crime, no caso do STF, é o da exploração de trabalho escravo em uma fazenda que ele tem no Mato Grosso, perto de onde mora, em Tocantins. Só que a denúncia original é de oito anos atrás.  O caso foi denunciado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) do Mato Grosso, confirmada por auditores do Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Estado deu início ao processo. Isso, lá atrás, em 2004. Nesse intervalo, ele findou um mandato e foi eleito para outro, sem ser apanhado nesse período em que estava sem a proteção.  Mas, aí, tem outro aspecto da questão, que é a eficácia e seriedade do Judiciário. Muito juiz e colegas seus de escalas superiores são mancomunados com essa bandidagem. Disso advém o engavetamento de processos e a morosidade na tramitação por “falhas processuais”, criadas para este fim. A promiscuidade e a roubalheira promovida nos governos de FHC, envolvendo funcionários do governo, juízes, banqueiros, doleiros, contrabandistas, traficantes e até governadores, segue em brancas nuvens. Poucas penas aplicadas para punir alguns dos envolvidos, de escalões menores, foram abrandadas pelo Judiciário. O exuberante livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., recém-lançado, mostra como se dá esse processo. Ele foca seu meticuloso levantamento no período de 1994 a 2002, em que ocorreu a queima do patrimônio público no escandaloso processo de privatizações ocorrido. O personagem central daquelas negociatas, com profícua lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, foi José Serra, agora pré-candidato a prefeito de São Paulo, pelo PSDB. Há provas de que, na pior das hipóteses, FHC, chefe maior de todos eles, sabia de tudo o que se passava nos seus governos. A maior parte da grande mídia brasileira ignora solenemente o que se passou naquele período. E, agora que o tema vem à tona com força, faz rodeios para tratar do assunto. Domingo passado, por exemplo, a Folha de S.Paulo publicou caderno especial sobre o foro privilegiado e a morosidade da Justiça. No entanto, o farto material ignora o PSDB paulista. Para não deixar o partido isento, já que havia citado quase todos os demais, o jornal cita dois casos de gente do PSDB. Mas são relacionados a dois governadores tucanos, de estados bem distantes das plagas paulistas. Um deles é Marconi Perillo, de Goiás, que tem um processo por supostas irregularidades em campanhas eleitorais. Caso de pequena dimensão. De todo jeito, desde logo pode-se tirar um aspecto positivo da tardia abertura de processo contra o senador tocantinense. É justamente a retomada do debate sobre o foro privilegiado. O interessante é que, pelo menos da boca para fora, há unanimidade quanto aos exageros da lei.
Dos ministros dos tribunais superiores aos parlamentares e governantes, em todas as instâncias, todos concordam em que o foro privilegiado deve permanecer apenas para crimes políticos. Em delitos comuns os autores devem passar a ser tratados como cidadãos comuns.
A permanência da salvaguarda para crimes políticos tem fortes argumentos em seu favor. O principal deles é o de que um rival político pode muito bem denunciar uma autoridade e um juiz qualquer acolher, julgar e punir injustamente um parlamentar ou até mesmo o presidente da República. Vale notar que desvio de dinheiro público, por exemplo, não é crime político, apesar de ser fruto de um cargo político. Mas há no Congresso, entre deputados e senadores, acusados e processados por peculato, grilagem de terras, roubo e até assassinatos. E o que os protege é o mandato. Novas mudança nesse aspecto da legislação pode vir antes de uma ampla reforma do Judiciário, tão esperada. A dedicação exclusiva dos magistrados é um dos aspectos. Afinal, boa parte dos togados, em todos os níveis, mantém outras atividades, com negócios dos mais diversos. Um exemplo corriqueiro: um juiz que é professor terá isenção para julgar uma causa contra a escola em que leciona? No momento, contudo, devemos aproveitar a deixa para rever o instituto do foro privilegiado. O mais rapidamente possível.

* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.

Ciro Gomes explica como nasceu a privataria de Serra e FHC

29 DE FEVEREIRO DE 2012


Em entrevista realizada ao programa Jogo do Poder, em setembro de 2009, Ciro Gomes (PSB) explica como nasceu a privataria tucana comandada pelo "FHC boy" José Serra. As declarações de Ciro mostram como a história, agora muito bem resgatada no livro A Privataria Tucana de Amaury Ribeio Jr., é bastante conhecida dos personagens que lutaram contra FHC.




segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Entenda a Privataria Tucana

Ciro aponta Serra como cúmplice da Privataria Tucana e será ouvido na CPI


6/2/2012 
Ciro Gomes é vice-presidente do PSB


O ex-ministro Ciro Ferreira Gomes, hoje vice-presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), é uma das testemunhas aguardadas na Câmara dos Deputados caso seja aprovada a CPI da Privataria Tucana, originada no livro homônimo do jornalista Amaury Ribeiro. A obra narra o processo de privatização das grandes companhias brasileiras e o desvio monumental de recursos do Estado para contas particulares, em bancos de paraísos fiscais, entre elas as dos principais líderes do PSDB, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso.
Ciro, em entrevista a um programa de TV aberta, ainda em 2009, já denunciava os fatos descritos, em detalhes, no livro-reportagem. Segundo o também ex-deputado federal com mais de 600 mil votos na penúltima eleição, a gestão de FHC e Serra drenou os recursos brasileiros de forma espetacular a ponto de faltar pouco para o país quebrar, ao longo dos oito anos do mandato tucano.
– O (jornalista) Elio Gaspari chama o processo de privatização que eles fizeram de privataria. Uma mistura de privatização com pirataria. Não é por nada particular, porque o Serra gosta de espalhar entre as penas amestradas que ele controla, que eu tenho alguma animosidade pessoal com ele. Ele é um Fernando Henrique Boy. Não tem como não ser. Ele foi ministro do governo Fernando Henrique por oito anos – afirmou Ciro, na entrevista passada.
Ciro Gomes pontuou a velocidade impressionante com que a equipe econômica da gestão FHC avançou sobre os bens nacionais, construídos ao longo de 500 anos.
– O Brasil, quando o Fernando Henrique tomou posse – e eu era ministro da Fazenda – tinha levado 500 anos para fazer uma dívida pública equivalente a 38% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa gente, o governador Serra, ministro do Planejamento, membro da equipe econômica, trouxe essa dívida para 78% do PIB em apenas oito anos. Levou 500 anos, brasileiro, para que a dívida chegasse a 38% do PIB. E foi uma dívida feita para construir a Petrobras, a Eletrobras, a Telebras, as estradas etc etc. Essa gente dilapidou o patrimônio brasileiro. O investimento brasileiro caiu ao pior nível desde a Segunda Guerra Mundial. Destruíram as universidades brasileiras. Perdemos um terço dos mestres e doutores, que se leva 40 anos para formar, em apenas oito anos de maluquices. De prostração ideológica neolilberal, de mistificação – relata.
Para o ex-parlamentar, que não concorreu à Presidência da República nas últimas eleições num acordo com o PT, alinhavado pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que ele apoiasse a candidatura da atual presidenta, Dilma Rousseff, a volta dos tucanos ao poder significa um retrocesso histórico.
– O Brasil foi ao chão. Faltou energia. Pelo amor de Deus… Tem alguma animosidade minha? Se tiver, desmintam um número meu. Então, essa gente não pode voltar, porque agora o Lula provou para nós próprios, brasileiros, que nós temos condições de resolver o nosso desafio. E olha que o Lula pegou a coisa degringolada. Em 2003 o Brasil quase quebra, de novo. Agora, passamos pela maior crise do capitalismo moderno e o Brasil não quebrou.
Aos 52 anos, mais da metade dedicados à vida pública, o ex-deputado federal foi duas vezes deputado estadual, sendo eleito em seguida prefeito de Fortaleza e governador do Ceará. Ocupou ainda os cargos de Ministro da Fazenda e Ministro da Integração Nacional. Em 2006 e foi o deputado federal mais votado do país, proporcionalmente, com 667.830 votos.
Assista ao vídeo, com os melhores momentos da entrevista



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Caso Cesare Battisti - Um peso e várias medidas


31/01/2012
Por Francisco Fernandes Ladeira
Historicamente, a grande imprensa brasileira (leia-se famílias Marinho, Civita, Saad e Frias) está acostumada a manipular boa parte da população e a impor a sua ideologia conservadora como “verdade inquestionável”. Todavia, nos últimos anos, nossa “mídia oficial” vem sofrendo importantes derrotas: nas últimas três eleições presidenciais, por exemplo, não conseguiu eleger os seus candidatos preferidos e, mais recentemente, não pôde impedir a grande repercussão e sucesso de vendas do livro Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. Quando contrariados, os poderosos conglomerados do setor de comunicação não se furtam em procurar distorcer a realidade e despejam todo o seu ódio contra aqueles que não compactuam com suas ideias. Chegam até, em alguns casos, a tentar passar por cima da justiça brasileira. Um caso emblemático dessa prática nefasta foi a cobertura midiática sobre a negação do governo brasileiro ao pedido de extradição do escritor e ex-ativista político italiano Cesare Battisti.


Battisti, que durante a década de 1970 militou na organização de extrema-esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), foi condenado pela justiça italiana à prisão perpétua, acusado de envolvimento no assassinato de quatro pessoas entre 1977 e 1978. No entanto, o julgamento ocorreu à revelia (portanto, sem a presença do acusado), apresentou algumas falhas técnicas e contou com a participação de testemunhas que se beneficiaram de delação premiada. Segundo a opinião de vários especialistas em Direito, a condenação do ex-ativista atendeu mais a objetivos politícos do que propriamente judiciais.


As contradições do julgamento


Por ser perseguido em seu país, Battisti atravessou os Alpes e se estabeleceu na França (posteriormente, ele chegou a morar no México). Os pedidos do governo de Roma pela extradição do ex-ativista foram negados pela Corte de Acusação de Paris em duas ocasiões, até que, em 2004, durante o governo JacquesChirac, o Conselho de Estado da França analisou novo pedido e autorizou que Battisti fosse extraditado. Entretanto, antes que o decreto fosse assinado, Battisti fugiu para o Brasil. Em 2007, o governo da Itália apresentou o pedido de extradição de Battisti ao governo brasileiro. No mesmo ano ocorreu a prisão preventiva do ativista. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição, mas definiu que a decisão final, conforme promulga a Constituição Federal, caberia ao presidente da República. Sendo assim, em 31 de dezembro de 2010, último dia de seu mandato presidencial, Lula anunciou que não concederia a extradição do ex-militante. Porém, devido a algumas pendengas judiciais, Battisti continuou preso e, finalmente, no dia 8 junho de 2011, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por seis votos a três, pela sua libertação.
Concomitantes à decisão da justiça brasileira, as grandes emissoras de televisão e os principais jornais e revistas de circulação nacional prontamente iniciaram uma ostensiva campanha contra o governo brasileiro e Cesare Battisti. Praticamente toda a edição do Jornal da Globo do dia 8 de junho foi utilizada para difamar o italiano. Para a revista Veja, porta-voz do pensamento ultrarreacionário no Brasil, a decisão sobre o caso Battisti é um símbolo da política exterior hipócrita do governo Lula (qualquer forma de diplomacia independente e que não se submeta incondicionalmente aos interesses dos países centrais é mal vista pela publicação da família Civita). Até o SBT, tradicionalmente uma emissora alienada politicamente, se manifestou sobre o caso: “Tão absurdo quanto dar abrigo a carrascos nazistas e ditadores sanguinários é receber de braços abertos terroristas como Cesare Battisti.”
Boris Casoy foi taxativo em seu comentário no Jornal da Noite, da TV Bandeirantes: “O ex-terrorista Cesare Battisti e seu grupelho se insurgiram contra a democracia italiana e fizeram dos assassinatos, sequestros e roubos a sua bandeira. Não lutavam contra uma ditadura, mas sim, contra um país, sem dúvida, democrático. Battisti foi submetido a processo legal pela justiça de um país livre e foi condenado em todas as instâncias. Dar refúgio político a um criminoso, cuja pena é prisão perpétua devido a quatro assassinatos, é uma verdadeira ignomínia.” No entanto, o veterano âncora, que em certa ocasião chegou a afirmar que “os lixeiros” representam “o mais baixo da escala do trabalho”, não mencionou uma frase sequer sobre as várias contradições que envolveram o julgamento do ex-ativista. Também é importante salientar que a mobilização pela extradição de Battisti foi um oportuno pretexto para o neofascista Silvio Berlusconi escamotear os inúmeros casos de corrupção envolvendo o seu mandato como primeiro-ministro.


Opiniões ignoradas


Não obstante, semana passada, após um encontro informal com o governador gaúcho Tarso Genro na terça-feira (24/1), Battisti voltou aos noticiários e, como era de se esperar, mais uma vez foi vítima de um massacre midiático. Reinaldo Azevedo,paladino da direita brasileira e articulista da revista Veja, afirmou em seu blog que Tarso abriu as portas do Palácio Piratini (sede do Poder Executivo do Rio Grande do Sul) para um assassino.
Em seu Jornal da Noite, a Rede Bandeirantes questionou o fato de o governo brasileiro ter abrigado o italiano e, em contrapartida, autorizar a extradição de atletas cubanos que pediram asilo político durante os Jogos Pan-Americanos de 2007. Ora, Battisti é perseguido político e corria sério risco de vida se retornasse ao seu país. Pelo que consta, os atletas da ilha caribenha não eram perseguidos pelo governo de Havana e tampouco poderiam ser mortos ao retornarem a Cuba.     Já o colunista Claudio Humberto, do Jornal do Brasil, que não titubeou em se referir a Battisti como ex-terrorista, asseverou que o governo petista “envergonhou” o país ao “garantir impunidade ao italiano”.
Para a grande mídia brasileira, opositores a regimes políticos considerados abjetos pela “comunidade internacional” (eufemismo para designar a ideologia dos Estados Unidos e seus aliados) são “dissidentes”; por outro lado, os indivíduos que são contrários aos governos atrelados aos interesses de Washington são qualificados como “terroristas”. Por que dois pesos, duas medidas?
Ademais, o que se pode esperar de uma imprensa que criminaliza movimentos sociais (notadamente o MST), que já tentou manipular um processo eleitoral (contra Leonel Brizola em 1982) e contribuiu para a eleição de um presidente altamente corrupto (Fernando Collor em 1989)? Em última instância, é preciso questionar o porquê de a grande imprensa brasileira apresentar quase sempre uma visão unidimensional da realidade. Apenas determinado ponto de vista tem espaço nas maiores emissoras de televisão e nos principais jornais e revistas do país. Opiniões alternativas ao status quo são, propositalmente, ignoradas. Afinal, não vivemos em um país democrático? Diante dessa realidade, não é por acaso que o acrônimo PIG – partido da imprensa golpista – tem sido cada vez mais utilizado no Brasil.


***


[Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas, Brasil: Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de História e Geografia em Barbacena, MG]


Origem da matéria

Protógenes Queiroz diz que 'Privataria Tucana' é documento


30 DE JANEIRO DE 2012 


Em entrevista ao "Seu Jornal" o deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, Protógenes Queiroz, defende com veemência a criação da CPI da Privataria Tucana. Protogenes conta ainda que até mesmo parlamentares do PSDB estão de acordo com a criação da Comissão, e diz que Serra está "deseperado".


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Privataria tucana 2.0 vai abrir crise no PT

30/01/12

Nova edição do livro de Amaury Ribeiro Júnior, que lidera listas de mais vendidos, dará ênfase a uma guerra interna que atingiu o coração da campanha de Dilma à presidência; o alvo é Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores
Presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, o jornalista Rui Falcão sofreu uma pequena humilhação na semana que passou. Soube pela imprensa que o cientista Marco Antônio Raupp seria o novo ministro da Ciência e Tecnologia, na cota do PT, sem sequer ter sido consultado pela presidente Dilma Rousseff a respeito da mudança. Falcão estava de plantão em Brasília, esperando por uma audiência no Palácio do Planalto, e voltou a São Paulo frustrado.
A aparente descortesia, para quem conhece o núcleo duro do governo Dilma, tem origem na campanha presidencial de 2010. Atribui-se a Falcão o vazamento de informações estratégicas da casa no Lago Sul onde estava montado o quartel-general da tropa de Dilma. Manipuladas pela revista Veja, tais informações deram origem a uma reportagem devastadora. Nela, dizia-se que, naquela mansão, produziam-se dossiês com dados fiscais de parentes de José Serra. O episódio atingiu em cheio o jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que foi indiciado pela Polícia Federal, embora sempre tenha sustentado a versão de que as informações em seu poder seriam usadas num futuro livro sobre as privatizações.
Além de Amaury, o livro atingiu a estrutura de comunicação da campanha, tirando de cena o jornalista Luiz Lanzetta e também a equipe montada pelo atual ministro Fernando Pimentel. Com isso, a ala paulista do PT, liderada por Rui Falcão e Antônio Palocci ocupou o espaço, mas o episódio deixou feridas que ainda não estão cicatrizadas.
Agora, depois de ter vendido 120 mil exemplares, Amaury prepara a vingança. Nas próximas reimpressões, que serão feitas pela Geração Editorial, ele incluirá novos documentos e detalhará mais o episódio que culminou com seu indiciamento. Rui Falcão será acusado de ter alimentado o fogo amigo no PT e vazado informações para a revista Veja. Um episódio que Dilma, aparentemente, ainda não perdoou.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Privataria, pancadaria e disputa de idéias



27 DE JANEIRO DE 2012 
Por Gilberto Maringoni


Vamos combinar: a administração Alckmin atingiu seu objetivo. Desocupou a força o bairro Pinheirinho, em São José dos Campos, desalojando cerca de seis mil pessoas. Através de uma guerra de liminares, contornou um imbróglio de competências jurídicas e legalizou a brutalidade contra setores pobres da população (mais uma vez).






Fez um cálculo político: estamos a nove meses das eleições, tempo suficiente para que cenas de mães correndo com filhos nos braços, policiais espancando crianças e incêndios e tratores dando cabo de moradias sejam esquecidas pelo eleitorado. No jargão da Polícia Militar, a operação foi um sucesso.
Mas o governo do Estado de São Paulo parece estar perdendo a batalha de comunicação. O presidente interino do PSDB, Alberto Goldmann, acusa o golpe de forma clara, em nota oficial de seu partido. Logo de saída, ele ensaia um ataque:
“O cumprimento da decisão judicial fez com que o PT movimentasse todos seus tentáculos políticos e sua máquina de desinformação, com o intuito de atingir três metas: culpar o Governo do Estado pelo fato, caracterizar como de extrema violência a intervenção policial no local e se apresentar como paladino da justiça social, fazendo falsas promessas e criando expectativas irreais para os moradores do local”.
Goldman tenta reduzir o caso a uma querela político-partidária. “Todos os tentáculos” se refere, obviamente, à impressionante difusão que o caso ganhou nas redes sociais e em toda a internet, não apenas por possíveis petistas, mas por gente cujo elo de ligação maior era o espanto com o ocorrido.
No fim do texto, o dirigente tucano tenta eximir seu governo de qualquer responsabilidade:
“O governo de São Paulo agiu em cumprimento de determinação do Judiciário, e a operação foi comandada diretamente pela Presidência do Tribunal de Justiça paulista”.
Tudo certo. Nada aconteceu por vontade do governador. Houve apenas o cumprimento de uma decisão “técnica” e “racional” para que as coisas voltassem à sua ordem natural. Algo impessoal e asséptico.


Não é com ele


O PSDB exibe aqui a mesma defensiva que pauta a agremiação quando o assunto é a política de privatização dos anos 1990. Ao longo daquela década, os líderes do PSDB – como bem mostra Amaury Ribeiro Jr. em “A privataria tucana” – posavam exultantes ao lado dos martelinhos dos leilões com os quais eram vendidas as estatais.
Passada a euforia, após a abrupta desvalorização do real em 1999, o partido mostrou-se hesitante e mesmo envergonhado para defender a acelerada alienação do patrimônio público nos governos de Fernando Henrique Cardoso.
Isso ficou claro nas campanhas presidenciais de 2006 e 2010, quando os candidatos Geraldo Alckmin e José Serra foram acuados por Lula e Dilma Rousseff, que repetiram o tema até constranger seus oponentes. O atual governador de São Paulo chegou a ostentar na TV um ridículo jaleco salpicado de logotipos de estatais para demonstrar seu amor às empresas públicas. (É bem verdade que para isso, o PT, que agora defende a privatização de aeroportos, lançou mão de eficiente cara de pau diante do eleitorado. Tudo bem, faz parte do show).
As privatizações se constituem em outro caso claro de vitória operacional que se transformou em derrota política.
Amaury Ribeiro Jr. assinalou isso em um concorrido debate para o lançamento de seu livro na tarde desta quarta (25), no Fórum Social Temático, em Porto Alegre. “Fiquei me perguntando por que um livro sobre as privatizações, um tema da macroeconomia, vendeu tanto e sensibilizou tanta gente em todo o Brasil”, disse ele logo de início. Em seguida, emendou: “É porque a venda das estatais afetou a vida de milhares de pessoas, não apenas daquelas que trabalhavam e foram demitidas das companhias, mas daquelas que acreditaram nas promessas de que o país melhoraria com os leilões”.
Amaury certamente conhece uma pesquisa realizada em 2007 pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre o assunto. Ela constatava que “A maioria do eleitorado brasileiro (62%) é contra a privatização de serviços públicos”.


Poder de fogo


A chamada “batalha da comunicação” faz parte de uma aguda disputa de idéias na sociedade, difícil de ser levada adiante por conta da diferença do poder de fogo dos meios de comunicação. Ela pode expor de forma nítida que concepções ou projetos de sociedade cada setor deseja concretizar.
Provavelmente a idéia de Geraldo Alckmin é que os seis mil moradores do Pinheirinho, por não terem acesso à mídia, não causariam maiores problemas de imagem à sua gestão. 
Desocupações sustentadas pela polícia ocorreram às dezenas antes, sem que houvesse eco na opinião pública. Além disso, não seria difícil vincular aos moradores a imagem de baderneiros, violadores do direito à propriedade e marginais. Para uma classe média conservadora, leitora de “Veja” e que detesta pobre, não haveria problema algum em descer o tacape nos miseráveis. 
Nunca é demais lembrar que o massacre do Carandiru, que completa vinte anos no segundo semestre, foi saudado à época por largas parcelas da população, que chegou a eleger o comandante da operação como deputado estadual. E que investidas policiais contra os sem-terra sejam volta e meia aplaudidas por expressivos setores da opinião pública.
No caso atual, não apenas há imagens dramáticas, como há o fator internet. As cenas de espancamentos no Pinheirinho adquiriram quase que um caráter viral na rede. Disseminaram-se sem controle, colocando o governo estadual e a direção do PSDB na defensiva. 
Não há ainda pesquisas sobre as impressões da população diante do caso. Pode ser que uma maioria ainda apóie a ação oficial. Mas o quadro tendencial é de desgaste crescente.
O conservadorismo tucano parece ter encontrado seus limites. Enquanto suas iniciativas no terreno da segurança pública conseguiam ser enquadradas no guarda chuva genérico de se garantir a “tranqüilidade da população” ou de se manter a previsibilidade sobre a ação policial (“bandido bom é bandido morto”, “a lei tem de ser respeitada”, “polícia boa é polícia dura” etc.), tudo ia bem. Mas quando há excessos, que revelam ações desmedidas e causadoras de sofrimentos desnecessários, o apoio à truculência deixa de ser incondicional.
E é aí que se começa a perder a batalha de idéias.
Batalha de idéias? Em outros tempos a pendenga era chamada por seu nome correto: luta ideológica. Essa do Pinheirinho é das boas.


Truculência tem história


Só a título de curiosidade: a política higienista empreendida pelo governo do Estado no Pinheirinho e da prefeitura na Cracolândia tem antecedentes ilustres.
Em 1914, o então prefeito de São Paulo, Washington Luís (que viria a ser presidente da República, usou as seguintes palavras para justificar a violenta expulsão da população pobre da Várzea do Carmo para a construção do parque D. Pedro, no centro da capital:
“O novo parque não pode ser adiado porque o que hoje ainda se vê, na adiantada capital do Estado, a separar brutalmente do centro comercial da cidade os seus populosos bairros industriais, é uma vasta superfície chagosa, mal cicatrizada em alguns pontos e ainda escalavrada, feia e suja, repugnante e perigosa, em quase toda a sua extensão (...). É aí que, protegida pela ausência de iluminação se reúne e dorme, à noite, a vasa da cidade, numa promiscuidade nojosa, composta de negros vagabundos, de negras emaciadas pela embriagues habitual, de uma mestiçagem viciosa, de restos inomináveis e vencidos de todas as nacionalidades, em todas as idades, todos perigosos (...). Tudo isso pode desaparecer sendo substituído por um parque seguro, saudável e belo. Denunciando o mal e indicado o remédio, não há lugar para hesitações, por que a isso se opõem a beleza, a higiene, a moral, a segurança, enfim, a civilização e o espírito de iniciativa de São Paulo.”
Tirando uma palavra ou outra, parece discurso proferido pelas atuais autoridades paulistas.


Publicado na Carta Maior


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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O grande exemplo de brasilidade


26/01/12
Messias Pontes 


Poucos homens públicos no Brasil tiveram um papel tão importante na defesa dos interesses nacionais como Leonel de Moura Brizola. Filho de camponeses humilde de Carazinho, interior gaúcho, onde nasceu há exatos 90 anos, em 22 de janeiro de 2012, Brizola teve uma infância das mais difíceis, mas nunca desistiu dos estudos, chegando a se formar em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1949. Filiou-se ao PTB em 1945, e dois anos depois já era deputado estadual.


Herdeiro natural de Getúlio Vargas, Brizola foi prefeito de Porto Alegre e governador do seu estado, tendo liderado a Campanha da Legalidade após a renúncia do presidente Jânio Quadros em 24 de agosto de 1961. A cúpula das Forças Armadas, a soldo dos interesses do imperialismo norte-americano, tentou impedir a posse de vice-presidente João Goulart, democraticamente eleito com expressiva votação, porém a campanha encetada por Brizola, a partir da Rádio Guaíba, garantiu a posse de Jango, seu cunhado.


Brizola queria tão somente a legalidade, ou seja, que a Constituição de 1946, em vigorà época, fosse respeitada. Para tanto, era preciso que o vice-presidente da República, com a vacância do cargo em função da renúncia do titular, assumisse a Presidência da República com amplos poderes. Contudo os setores mais reacionários das Forças Armadas, seguindo a orientação do embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, tentaram impedir a sua posse e até mesmo o seu desembarque no País, vindo de visita à República Popular da China em missão oficial.


A Campanha da Legalidade foi um movimento cívico-militar que durou 14 dias, liderado por Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, e pelo general Machado Lopes. Os pronunciamentos dele eram transmitidos a partir de um estúdio montado no porão do Palácio do Governo, sob orientação do engenheiros Homero Simon, que cuidou para que as rádios do interior retransmitissem a programação.Em ondas curta, a legalidade alcançava ouvintes em outros estados e mobilizava a população. 


Aqui em Fortaleza era a Rádio Dragão do Mar, pertencente ao empresário e deputado federal Moisés Pimentel, quem retransmitia a programação da legalidade sob a responsabilidade do grande jornalista Blanchard Girão que, após o golpe de 1º de abril de 1964 teve seu mandato de deputado estadual cassado, sendo preso no 23º BC.


Brizola foi o único político brasileiro a governar dois estados: Rio Grande do Sul, em 1958, e Guanabara, em 1982. depois da tentativa da Rede Globo de Televisão, em conluio com a ProConsult – empresa contratada para a totalização dos votos, para impedir a sua vitória. Ao descobrir a falcatrua, Brizola convocou a imprensa internacional e impediu que o crime eleitoral se consumasse; Em 1990 foi eleito pela segunda vez no Rio de Janeiro, tendo sofrido uma campanha infame da Rede Globo.


Diante da intransigência dos militares golpistas que não queriam permitir a posse do vice presidente João Goulart, Brizola se entrincheirou no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, mobilizou a Brigada Militar e distribuiu armas para a população resistir. Milhares de pessoas aderiram ao chamamento do governador gaúcho e, com o apoio do general Machado Lopes, comandante do III Exército que não acatou a ordem de cima para atacar Brizola e adere ao movimento, garante a posse de Jango, mesmo sob o parlamentarismo, portanto como chefe de Estado e não de Governo.


Como prefeito e governador Brizola notabilizou-se pelo investimento maciço em educação e na intransigente defesa dos interesses nacionais e populares. Em quatro anos como governador gaúcho, de 1959 a 1963, ele criou uma rede de ensino primário e médio que atingiu os municípios mais distantes, com 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios, colégios e escolas normais, totalizando 6.302 novos estabelecimentos de ensino. Com isso ele abriu 688.209 nova matrículas e admitiu 42.153 novos professores.


Sempre sob a bandeira da legalidade, Leonel Brizola enfrentou forças poderosas mas nunca capitulou. Como governador do Rio Grande do Sul ele estatizou duas empresas norte-americanas cujas concessões estavam vencidas: a Companhia Elétrica Riograndense, filial da Bond and Share que se negava a fazer novos investimentos a menos que o governo aceitasse as suas exigências de liberação de tarifas e concessão por mais 35 anos. Na época faltava energia para as indústrias e para a cidade de Porto Alegre.


A mesma postura teve com relação à Companhia Telefônica Riograndense, filial da ITT que, a exemplo da Bond and Share, estava com a concessão vencida e exigia condições semelhantes para investir. Como não podia deixar de ser, Brizola enfrentou a ira do governo ianque e dos entreguistas tupiniquins albergados na União Democrática Nacional (UDN) e na grande mídia conservadora, venal e golpista. Os Diários Associados, de Assis Chateaubriand, encetaram uma campanha virulenta contra o líder nacionalista gaúcho.


Outro grande feito de Brizola como governador gaúcho foi o apoio e incentivo à reforma agrária, já que a Constituição do Estado garantia a entrega de terras aos agricultores, sempre que surgissem abaixo-assinados com o mínimo de uma centena de firmas. No período foram entregues mais de 14 mil títulos a camponeses sem terra, destacando-se as áreas de assentamento como Fazenda Sarandi, Banhado do Colégio, Caponé, Fazenda Itapoã, Taquari e Pangaré.


Como governador da Guanabara, Brizola criou no Rio de Janeiro os CIEPs – Centros Integrados de Educação Pública -, escolas de tempo integral que revolucionou a educação à época. Depois de deixar o governo essas escolas foram criminosamente extintas. Cassado logo após o golpe militar de 1964, exilou-se no Uruguai, retornando com a Anistia em 1979. Participou ativamente da campanha da Diretas Já, o maior movimento de massas do Brasil..


O grande erro das esquerdas em 1989 foi não ter apoiado a candidatura de Brizola a presidente de República e indicado Luiz Inácio Lula da Silva como vice. Se eleito, ele teria evitado a grande tragédia do neoliberalismo iniciada com Fernando Collor de Mello e continuado e aprofundado pelo outro Fernando, o Coisa Ruim,que cometeu o maior crime de lesa pátria que se tem notícia na história republicana. O Estado foi praticamente desmontado e o grande patrimônio público entregue a preço de banana, com financiamento do BNDES.


Se vivo fosse, Brizola com certeza estaria liderando movimento para a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Privataria proposta pelo deputado Protógenes Queiroz, do PCdoB de São Paulo, baseado no livro A privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, que revela, com documentos, a verdade sobre ao maior assalto ao patrimônio público brasileiro. Certamente Brizola estaria denunciando os petistas que não assinaram o requerimento da CPI e que, pelo que se comenta em Brasília, tudo farão para impedir a instalação da Comissão. 


Até nisso Brizola está fazendo falta. Ele foi, sem dúvida, o grande exemplo de brasilidade.


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Privatizações afetaram o dia a dia das pessoas, destaca Ribeiro Jr.


26/01/12
Por Paula Coutinho




Fenômeno de vendas, o livro Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., esgotou em um dia a primeira tiragem, de 15 mil exemplares, e se mantém na lista dos mais vendidos. Em 343 páginas, a publicação lançada em dezembro pela Geração Editorial aborda esquemas de lavagem de dinheiro e de pagamento de propina nos processos de privatização ocorridos na década de 1990.


Ribeiro Jr. participou ontem de um debate promovido pelo Sindicato dos Bancários (SindBancários) dentro da programação do Fórum Social Temático (FST), em Porto Alegre. Antes, concedeu uma entrevista coletiva de uma hora. “Tenho andado por vários estados e vejo que a privatização, mesmo sendo um tema macroeconômico, refletiu na vida das pessoas, gerou dor, sofrimento.” Para o jornalista, essa influência das privatizações no dia a dia do cidadão explica o fenômeno que se tornou o livro.


Ao destrinchar os esquemas de desvio de dinheiro com as privatizações, o autor relaciona várias pessoas ligadas ao ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), entre elas a filha, Verônica Serra, o genro, Alexandre Bourgeois, e um sócio e marido de uma prima, Gregório Marín Preciado.


Ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil e ex-tesoureiro das campanhas de Serra e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o economista Ricardo Sérgio de Oliveira tem papel de destaque no livro. “Através de documentos, o livro mostra que pessoas, como o Ricardo Sérgio, favoreciam determinados grupos que ganhavam a privatização.”


Ribeiro Jr. investigou os processos de privatização de algumas empresas de telecomunicações e do setor siderúrgico. A coletiva de imprensa e o debate no SindBancários contaram também com a participação do ex-delegado da Polícia Federal e hoje deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), que coletou assinaturas e encaminhou um requerimento para uma CPI sobre o tema. “Queremos apurar os prejuízos decorrentes desses processos. Pessoas ficaram bilionárias do dia para a noite e ficou por isso mesmo. E muitas outras empobreceram e perderam empregos”, afirmou Protógenes.


Para Ribeiro Jr. não é uma questão de revanchismo, mas de informar o cidadão. “A população tem o direito do que aconteceu nesse País, saber qual foi o tamanho da roubalheira. A maior parte dos crimes (relatados no livro) já estão prescritos, mas pessoas que operaram o processo continuam atuado”, destacou.


Ribeiro Jr. já pensa em lançar o Privataria 2. O jornalista adiantou que seu novo livro vai abordar o envolvimento de estatais no pagamento de campanhas eleitorais, como Furnas, e empresas do setor elétrico, como a Cemig. Também vai se debruçar sobre o movimento de privatização da saúde em vários estados brasileiros, como Paraná, Rio de Janeiro e Pará.  “Tenho notado uma preocupação em relação a alguns governos tucanos que estão privatizando as áreas da saúde e da educação. As pessoas estão temendo outros processos de privatização. É importante que não se repita o mesmo modelo.” Antes de participar da atividade do FST, o jornalista se reuniu com o governador Tarso Genro (PT).


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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Horror e opção preferencial contra os pobres


24/01/12
Por Maria Inês Nassif


É o horror. Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.






A primeira delas é tão clara que até enrubesce. Nos dois casos, trata-se de espantar o rebotalho urbano de terrenos cobiçados pela especulação imobiliária. O Projeto Nova Luz do prefeito Kassab, que vem a ser a privatização do centro para grandes incorporadoras, vai ser construído sob os escombros da Cracolândia, sem que nenhuma política social tenha sido feita para minorar a miséria ou dar uma opção séria para crianças, adolescentes e adultos que se consomem na droga. 


O terreno desocupado com requintes de crueldade em São José dos Campos, de propriedade da massa falida do ex-mega-investidor Naji Nahas, que já era de fato um bairro, vai ser destinado a um grande investimento, certamente. O presente de Natal atrasado para essas populações pobres libera esses territórios antes que terminem os mandatos dos atuais prefeitos, e o mais longe possível do calendário eleitoral. Rapidamente, a prefeitura de São Paulo está derrubando imóveis; a prefeitura de São José não deve demorar para limpar o terrreno de Pinheirinho das casas - inclusive de alvernaria - das quais os moradores foram expulsos. 


Até outubro, no mínimo devem ter feito uma limpeza na paisagem, o que atenua nas urnas, pelo menos para a classe média, a ação da polícia. A higienização justifica a truculência policial. A "Cidade Limpa" de Kassab, que começou com a proibição de layouts na cidade, termina com a proibição de exposição da pobreza e da miséria humana.


A segunda é de ordem ideológica. Desde a morte de Mário Covas, que ainda conseguia erguer um muro de contenção para o PSDB paulista não guinar completamente à direita, não existe dentro do partido nenhuma resistência ao conservadorismo. Quando Geraldo Alckmin reassumiu o governo do Estado, em janeiro de 2011, muitas análises foram feitas sobre se ele, por força da briga por espaço político com José Serra dentro do partido, iria trazer o seu governo mais para o centro. A referência tomada foi o comando da Segurança Pública, já que em seu mandato anterior a truculência do então secretário, Saulo de Castro Abreu Filho, virou até denúncia contra o governo de São Paulo junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. 


O fato de ter mantido Castro fora da Segurança e se aproximado do governo federal, incorporando alguns programas sociais federais, e uma relação nada íntima com o prefeito da capital, deram a impressão, no primeiro ano de governo, que Alckmin havia sido empurrado para o centro. O que não deixava de ser uma ironia: um político que nunca escondeu seu conservadorismo foi deslocado dessa posição por um adversário interno no partido, José Serra, que, vindo da esquerda, tornou-se a expressão máxima do conservadorismo nacional.


Isso não deixa de ser uma lição para a história. Superado o embate interno pela derrota incondicional de José Serra, que desde a sua derrota vinha perdendo terreno no partido e foi relegado à geladeira, depois da publicação de "Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, Alckmin volta ao leito. O governador é conservador; o PSDB tornou-se orgânicamente conservador, depois de oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e oito anos de posição neoudenista. A polícia é truculenta - e organicamente truculenta, já que traz o modelo militar da ditadura e foi mais do que estimulada nos últimos governos a manter a lei, a ordem e esconder a miséria debaixo do tapete. 


O nome de quem faz a gestão da Segurança Pública não interessa: está mais do que claro que passou pelo governador a ordem das invasões na Cracolândia e em Pinheirinho.


Outra análise que deve ser feita é a da banalização da desumanidade. Conforme a sociedade brasileira foi se polarizando politicamente entre PSDB e PT, a questão dos direitos humanos passou a ser tratada como um assunto partidário. O conservadorismo despiu-se de qualquer prurido de defender a ação policial truculenta, de tomar como justiça um Judiciário que, nos recantos do país, tem reiterado um literal apoio à propriedade privada, um total desprezo ao uso social da propriedade e legitimado a ação da polícia contra populações pobres (com nobres exceções, esclareça-se). 


Para os porta-vozes desses setores, a polícia, armada, "reage" com inofensivas balas de borracha à agressão dos moradores que jogam pedras perigosíssimas contra escudos enormes da tropa de choque. No caso de Pinheirinho, a repórter Lúcia Rodrigues, que estava na ocupação, na sexta-feira, foi ela própria alvo de duas balas letais, vindas da pistola de um policial municipal. Ela não foi atingida, mas duvida, pela violência que presenciou, das informações de que tenha saído apenas uma pessoa gravemente ferida daquele cenário de guerra.


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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Resenha do livro 'A privataria tucana'

Pelo menos dois amigos de esquerda estão curiosos para saber o que eu tenho a dizer sobre o livro, então 'bora escrever logo, ainda no warm-up da volta ao trabalho. Um deles foi gentil em me mandar uma cópia, aí estava automaticamente sujeito à "Lei do Círculo do Livro" (ganhar livro = obrigação de resenhar).


Eu mesmo não colocaria a mão no bolso para comprá-lo, porque julguei inicialmente que o livro estaria no mesmo nível do "Honoráveis Bandidos", de Palmério Dória. Por mais que eu não goste do Sarney, uma folheada rápida numa livraria deu a impressão de ser um livro escrito com raiva.


Mas felizmente o Privataria é de nível mais alto.


Primeiro, vamos falar de estética. O livro é bonito, o trabalho gráfico externo e interno é bom, a gramatura das páginas é boa, o tipo e tamanho da letra é legal, aparentemente nenhum erro tipográfico ou ortográfico deixado para trás.


Pelo menos no início, o livro é muito bem escrito. Aquela coisa: frases e parágrafos do tamanho certo, estilo agradável, uma frase puxa a outra e você quer continuar lendo. Não sei por quê, lembrou o estilo do Ivan Sant'Anna [1].


Em termos de conteúdo, o livro tem três partes bem claras e quase estanques entre si.


A primeira parte, a mais interessante e bem escrita, fala sobre as falcatruas do processo de privatização. Não são exatamente novidade, cada item "soou um sino" em algum lugar da memória, lembrou de reportagens dos anos 90 etc. O trabalho do jornalista foi investigativo e enciclopédico.


O autor não esconde que foi contra as privatizações (é um direito dele) mas faz diversos apelos à razão para convencer o eventual leitor pró-privatização (do qual sou espécime) que o processo não foi conduzido com lisura.


A editora Geração Editorial anuncia-o como um "livro sobre história recente". Ela possui outros títulos nesta linha, sem distinguir direitistas ou esquerdistas. Tem porrada no Maluf, no Steinbruch e no Lula.


A primeira parte do 'Privataria' é, realmente, um livro de História. Também é a única realmente relacionada ao título.


A segunda parte é mais focada em José Serra. É bem escrita, embora não tanto quanto a primeira. O foco no Serra e notável ausência de denúnicas contra outros próceres do PSDB (Aécio, FHC, Alckmin) pode ser interpretado como uma posição "aecista" do autor, uma 'pega' com o Serra, ou simplesmente um bom foco. Como disse Freud, às vezes um charuto é só um charuto, e não um objeto fálico.


A propósito, um personagem profusamente citado ao longo de todo o livro é Ricardo Sérgio de Oliveira, tesoureiro de várias campanhas do PSDB. Os tesoureiros de campanha brasileiros, seja qual for o partido, estão sempre na ribalta...


Os mecanismos para lavagem de dinheiro descritos no livro são verdadeiros e, na verdade, bastante conhecidos por quem é do ramo. Quem tem curiosidade a respeito destas "artes" vai encontrar uma boa referência no livro.


A forma que as estatais (em particular o Banco do Brasil) e fundos de previdência estatais foram (e provavelmente continuam sendo) induzidos a atuar em prol de interesses particulares também foi leitura atraente, e ao mesmo tempo desagradável; você fica se sentindo um idiota, tentando chegar a uma vida abastada meramente pelo trabalho...


Fica também mais claro o mapa do sentimento anti-SP. Fica claro que ele transcende partidos e tem um pólo muito importante em MG.


A terceira parte do livro é a menos brilhante. Não é ruim, mas as outras duas são melhores. Provavelmente porque é autobiográfica: na campanha eleitoral de 2010, o autor foi acusado de violar sigilo fiscal de pessoas próximas de Serra, acusação de que ele se defende muito bem no livro. Na verdade minha maior "bronca" com este tomo é a menor beleza estética do texto, mesmo.


Mas há coisas interessantes também nesta parte, em particular as brigas internas do PT e do PSDB, onde uma reportagem contra o PT acaba respingando em alguém do PSDB, aí o outro grupo desmente e assim vai. O caminho hamiltoniano dos rabos presos é bem comprido e transcende partidos e ideologias.


A participação nada inocente da imprensa também é aspecto interessante da leitura.


A propósito, o autor bate na tecla da imprensa algumas vezes durante a primeira parte, sobre como a imprensa "preparou o terreno" para convencer a população a respeito da necessidade de privatizar etc.


Disso eu discordo parcialmente; quem preparou o terreno para as privatizações foi a bagunça total reinante no Brasil nos 20 anos anteriores. Hoje as coisas estão melhores e nós brasileiros estamos voltando a ser lenientes, resistentes a mudanças. Mas opinião é como bunda, cada um tem a sua.


Conclusões, nitpicking, conclusões


O livro em si é bom. É mais enciclopédico que bombástico. Abre o caminho para mais trabalhos, que certamente virão, a respeito deste capítulo da história brasileira.


Os apelos à razão sobre quão mal-feitas foram as privatizações, são quase todos verdadeiros. O autor concentrou-se mais nas teles (que na época, diferentemente de hoje, eram as estrelas das Bolsas do mundo todo). Pessoalmente, conheço um modelo de privatização ainda pior: o das ferrovias.


Por qualquer motivo o autor falou de "moedas podres" sem explicar exatamente o que são. Deu a impressão que pagaram pelas nossas amadas estatais com cruzeiros velhos ou coisa parecida. Na verdade, moedas podres são títulos emitidos pelo governo no passado, mas que não puderam ser resgatados, e valem muito menos que seu valor de face no mercado.


Uma decepção geral a respeito das privatizações, inclusive para mim, foi a promessa não cumprida de que esta serviria para abater a dívida total do governo. Entraram aí diversos componentes: o gasto não foi contido; uma certa pressa de finalizar o processo; bastante azar com as crises mundiais.


Não, não mudou minha opinião sobre privatizações. Eu simplesmente não vejo sentido naquele mantra "empresa estatal pertence a todos nós". Uma ova. Pertence aos respectivos funcionários, e quando muito ao governo du jour. Por mim, podiam ter privatizado todas de graça (segundo os detratores, foi isto mesmo que aconteceu) e o resultado final para todos nós seria melhor do que mantê-las estatais. O resto do povo brasileiro, o Lula e a Dilma parecem concordar com a minha opinião, já que não procuraram reverter o processo nem auditá-lo a fundo.


Ficou claro que as estatais e respectivos fundos de previdência são ferramentas poderosas do governo, seja para privilegiar particulares ou levar a cabo suas políticas. O simples fato do governo FHC ter reduzido-as em número e escopo já é lucro; menos graus de liberdade para corrupção.


O grande feito do FHC foi ter tornado o Brasil um 'país de verdade', coisa que não era antes. O grande feito do Lula foi ter tornado o Brasil um país com mercado interno forte, coisa que não tinha antes. Como (auto-?)sugestão para futuros trabalhos, seria interessante explorar a hipótese de que a privatização foi preposterada -- ou seja, a ordem 'correta' teria sido criar mercado interno e depois privatizar, numa hipotética eleição do Lula em 1994 e de alguém mais à direita em 2002.




[1] Ivan Sant'Anna é autor de livros sobre aeronáutica. Entre eles "Caixa-Preta", excelente livro sobre três acidentes aéreos envolvendo aviões brasileiros, e "Plano de Ataque", sobre os atentados de 11 de Setembro.


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Serristas e aercistas não se entendem!


22 Janeiro 2012


Por Dácio Malta
 
    Deu no ‘Globo’:  “A última reunião da Executiva Nacional do PSDB, pouco antes do Natal, acabou em um ríspido diálogo entre o ex-governador José Serra e o secretário-geral do partido, o deputado Rodrigo Castro (MG), aliado do
senador Aécio Neves. Indignado com a publicação do livro “Privataria tucana”, do qual é um dos principais alvos, Serra cobrou a solidariedade do partido aos ataques recebidos e insinuou indiretamente que tucanos mineiros estavam por trás da publicação. Castro reagiu de maneira dura, assim como o deputado Eduardo Azeredo (MG).
Essa brigalhada sem fim entre mineiros e paulistas tem atrapalhado também o plano dos tucanos de reestruturar o partido, sobretudo na área de comunicação. A pesquisa encomendada ao cientista político Antonio Lavareda, que concluiu que o PSDB vem perdendo a guerra da comunicação para os petistas, foi recebida com críticas à ala paulista do partido.
- É equivocada a avaliação de que não avançamos na reestruturação do partido. Sob o comando do presidente Sérgio Guerra começamos a resgatar o legado deixado pelo governo Fernando Henrique Cardoso e já começamos a reorganizar setores fundamentais do partido. Promovemos um encontro de jovens e agora vamos fazer um de trabalhadores. Além disso, já começamos a nos preparar para a realização de prévias – rebate o deputado Rodrigo Castro.
A falta de clareza sobre quem será o candidato do PSDB à sucessão da presidente Dilma Rousseff é o maior complicador no ninho tucano. Embora Aécio seja apontado por grande parte do partido como o nome natural para 2014, seu comportamento discreto no Senado tem deixado muitos aliados na dúvida sobre suas intenções e condições políticas, além de abrir espaço para ambições de outros possíveis candidatos.
Até mesmo aliados do senador mineiro já admitem que Aécio terá de se posicionar de maneira mais clara nos próximos meses. Se não for mesmo disputar a prefeitura paulista, Serra poderá ser o principal adversário de Aécio nas prévias. O líder da bancada no Senado, senador Álvaro Dias (PR), propõe que o partido realize uma espécie de primária, a exemplo do que acontece nos EUA, e não descarta a possibilidade de entrar nesta disputa.
- Esse modelo de impor um nome de cima para baixo já se esgotou. As eleições primárias seriam o caminho para a construção da unidade partidária – defendeu Álvaro Dias”.


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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Eu li!



23/01/2012 


Fui direto à fonte. Entendo como absurdas as atitudes de gente que não leu o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., A Privataria Tucana (Geração Editorial) e aparece aqui, ali e acolá dizendo cobras e lagartos sobre a obra.


Por Wilson Correia 


A escola e a universidade deveriam servir para fazer entender que nenhum livro que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão. (Ítalo Calvino. .Por que ler os clássicos. Trad. N. Moulin. São Paulo: Cia. das Letras, 1981, p. 12). 


Interpretar as interpretações emprega mais trabalho do que interpretar os textos, e existem mais livros sobre livros do que sobre qualquer outro assunto: tudo o que fazemos é glosar uns aos outros. Há abundância de comentários, mas escassez de autores. Aprender a entender os entendidos se tornou o principal e mais celebrado aprendizado da nossa época; não reside nisso o fim último dos nossos estudos. (Montaigne. The complete essays. Trad. M. A. Screech. Londres: Penguin, 1991, p. 1212). 


Um jornalista é um homem que sabe explicar aos outros aquilo que ele próprio não entende. (Otto Maria Carpeaux. .Prosa política e filosófica de Heinrich Heine.. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967, p. 6). 


Comentar um livro sem tê-lo lido é como não ter pernas e querer integrar os pelotões da Corrida de São Silvestre. Ler apenas .livros. que falam de outros livros e se contentar em entender a interpretação dos interpretadores é como querer ver com o olho alheio. 


Por esses motivos, fui direto à fonte. Entendo como absurdas as atitudes de gente que não leu o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., .A Privataria Tucana. (Geração Editorial) e aparece aqui, ali e acolá dizendo cobras e lagartos sobre a obra. 


O título do livro (com recorte cronológico no governo FHC, 1994-2002) está explicado na página 41: .De forma mais clara, o que houve no Brasil não foi privatização mas .propinização.. A versão local da práxis foi batizada como privataria pelo jornalista Elio Gaspari, ao casar, com felicidade, os vocábulos .privatização. e .pirataria... 


Esse tema, aliás, já havia sido consistentemente desenvolvido por Aloysio Biondi na obra O Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado., publicado em São Paulo pela Fundação Perseu Abramo em 1999, o qual, na página 27, afirma: .Segundo o governo, as privatizações estão trazendo dólares para o país. Na prática, elas criaram saídas fantásticas de dólares, com a ampliação do .rombo. da balança comercial e das remessas para o exterior. Pior ainda: essas sangrias podiam ser parcialmente compensadas se os .compradores. trouxessem capitais deles próprios, tanto para comprar as estatais, no momento do leilão, como depois, para realizar os investimentos previstos para a .privatizada.. Nem isso acontece, por incrível contradição da política do governo.. 


Isso é pirataria ou a nossa .privataria.. Ora, um pirata, sabemos, é aquele que cruza os mares para roubar navios. É o corsário que enriquece à custa de terceiros, quase sempre valendo-se da força, malandramente namorador do alheio e que seduz toda e qualquer riqueza para fazer-se pançudo à custa do suor que não saiu de sua própria testa. 


Foi exatamente isso o que a história conta ter havido no Brasil durante o governo FHC. E isso, antes de me preocupar com as facções envolvidas nesses ataques à coisa pública de nosso país (elas sempre são cúmplices de seus mal feitos, simulando e dissimulando amizades e inimizades), o que me levou ao livro em questão foi o interesse em saber como os homens públicos brasileiros tratam do e mercadejam com o bem comum. 


Não sei se o autor de .A Privataria Tucana. tentou explicar o que nem ele entende, mas sei, isso sim, que a cidadania brasileira e a vida republicana entre nós estão apenas engatinhando. Ainda somos barrigas verdes e muito desafio nos aguarda para fazermos desses nossos Brasis uma verdadeira nação. 


_______________ 
*Wilson Correia, Doutor em Filosofia da Educação pela UNICAMP, é Adjunto em Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. É organizador do livro .Formando Professores: caminhos da formação docente.. Rio de janeiro: Ciência Moderna, 2012.
Email:: wilsoncorreia@ufrb.edu.br
URL:: http://www.recantodasletras.com.br/autor.php.id=12236


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Por dentro da Privataria Tucana

Do Portal politikei


Serra usou arapongas pagos com dinheiro público para espionar adversários. Investigando as privatizações de FHC, uma grande lavanderia de dinheiro surge com nomes do círculo mais próximo a Serra.


O objetivo deste artigo e de demais que pretendo publicar é revelar para quem ainda não leu ou não conseguiu comprar o livro, as graves acusações comprovadas pela obra investigativa, “A Privataria Tucana”, que devem servir de base para uma CPI, já com assinaturas suficientes de mais de Deputados, coletadas pelo Deputado Federal Protógenes Queiróz em 21 de dezembro último. Protógenes foi o delegado da Polícia Federal, responsável pela operação Satiagraha que prendeu o banqueiro do Opportunity, Daniel Dantas. O mesmo banqueiro foi solto graças á intervenção do então Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, amigo de Serra. Dantas será personagem de destaque no livro.

A Guerra entre Serra e Aécio pela candidatura à Presidência





Amaury Ribeiro Jr. é um jornalista investigativo com muitos prêmios em sua carreira e que chegou a sobreviver a um atentado quando denunciou traficantes envolvidos com assassinatos de jovens nos arredores de Brasília. Em dezembro de 2007, enquanto se recuperava do tiro no abdômen, da cirurgia e da depressão pós-traumática, foi chamado pelo jornal o Estado de Minas, do mesmo conglomerado do Correio Braziliense em que trabalhava. Seu trabalho seria descobrir quais eram os arapongas que vasculhavam a vida do governador mineiro pelo PSDB, Aécio Neves, em seus roteiros amorosos na cidade do Rio de Janeiro. Aécio seria vigiado e seguido por homens de Serra que queria eliminar o concorrente à candidatura à Presidência da República no PSDB. Com um dossiê em mãos contra seu rival tucano, Serra teria chantageado Aécio para abandonar a disputa. Tais informações partiram, na época, da própria assessoria do governo mineiro ao jornal, que conforme Amaury, é Aecista de corpo e alma.

Os arapongas de Serra (pagos com dinheiro público) e o jogo sujo contra adversários dentro e fora do PSDB


Com a pauta em mãos, Amaury buscou informações com seu amigo Idalberto Matias de Araújo, o agente Dadá, do Serviço de Inteligência da Aeronáutica (Cisa), que já o havia ajudado no caso dos traficantes em Brasília. Dadá apurou que o trabalho de campo da campanha serrista para complicar Aécio era chefiado por um homem da Agencia Brasileira de Inteligência (Abin) Luiz Fernando Barcellos. Conta Amaury: “Conhecido como ´agente Jardim´, Barcellos teria sido levado para o grupo de inteligência de Serra pelo deputado Marcelo Itagiba (PSDB/RJ)2, também delegado da Polícia Federal e casado com uma prima do tucano Andrea Matarazzo1, amigo de Serra há muitos carnavais.”
A informação de Dadá veio do delegado aposentado da Polícia Federal Onézimo das Graças Sousa, que na campanha eleitoral de 2010 foi personagem trazido pelo imprensa serrista para desqualificar as informações bombásticas que o livro de Amaury traria a público. O delegado
trabalhara com Barcellos (Agente Jardim) no núcleo de inteligência que Serra montara com dinheiro público quando ministro da Saúde, dentro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na época de Serra Ministro, Itagiba2 comandava o núcleo, a princípio para investigar os laboratórios acusados de fraudar os medicamentos genéricos. Porém, era pretexto para bisbilhotar funcionários do Ministério, como publicou a imprensa naqueles anos, o que levou à demissão do agente do extinto Serviço Nacional de Informação (SNI) por Serra conforme Diário Oficial da União da época. O próprio Ministro de FHC, o tucano Paulo Renato, foi alvo de Serra.


As privatizações e os esquemas de lavagem de dinheiro


Amaury entregou ao jornal Estado de Minas um relatório sobre o funcionamento da inteligência da campanha de Serra, porém, decidiu aprofundar as investigações. Foi quando retomou ao tema pelo qual já se debruçara antes, inclusive quando escrevia para a IstoÉ e para a sucursal de O Globo em São Paulo: “a Era das Privatizações, sob a égide do presidente Fernando Henrique Cardoso, particularmente os negócios que se deram na área das telecomunicações.” Amaury fez “uma varredura em cartórios de títulos e documentos, além de juntas comerciais de São Paulo e do Rio”. Conseguiu mapear como o ex-diretor da área internacional do Banco do
Brasil, Ricardo Sergio de Oliveira, e outros “alunos” com presença expressiva de tucanos paulistas, tratavam as empresas e o dinheiro no Brasil e nos paraísos fiscais do Caribe.


Além do tesoureiro de campanha de Serra, surge seu genro no esquema

Ricardo Sergio, ex-tesoureiro das campanhas eleitorais de Serra e de FHC, operava o dinheiro de forma que ele saía do país como se tratasse de investimentos em empresas estrangeiras e voltava para o Brasil, após passar por paraísos fiscais, também como investimentos externos em empresas nacionais, driblando os órgãos fiscalizadores, tratando-se de uma lavagem, ou melhor, internação de dinheiro. Apesar de parecer se tratar de origens e destinos diferentes, nas duas pontas da operação estava Ricardo Sérgio. Era dessa forma também que atuava a quadrilha da “advogada Jorgina de Freitas, que ganhou notoriedade por fraudar a Previdência Social em mais de R$ 1 bilhão”. Também por documentos da Junta Comercial de São Paulo, na Justiça e nos cartórios de títulos, e documentos da cidade, Amaury encontrou em 2008, novo personagem: Alexandre Bourgeois, genro de Serra, usando a metodologia “bolada pelo ex-tesoureiro do sogro”. Logo após a privatização das empresas de telecomunicações, Bourgeois abriu no mesmo paraíso fiscal, duas empresas offshores, que operavam no mesmo escritório utilizado por Ricardo Sergio nas Ilhas Virgens Britânicas.


Serra e Aécio apresentam as armas: os jornais paulistas e mineiros

O autor de “A privataria tucana” chamou de tolice sua iniciativa de telefonar para a assessoria de imprensa do governador paulista, buscando seu pronunciamento sobre o assunto. Serra tentou barrar a matéria quando ainda estava sendo apurada. Ao descobrir que era conduzida pelo Estado de Minas, “Serra quis falar com a direção do jornal e com a irmã do governador Andrea Neves, sem sucesso”, procurando então, diretamente a Aécio, para aparar arestas. Apesar de ter aparentemente  funcionado, era necessário aplacar “o comando do jornal mineiro, inconformado com a arapongagem de Itagiba e com o artigo ´Pó pará, governador´, plantado pela entourage de Serra em O Estado de S. Paulo, para desgastar o governador mineiro”. Em fevereiro de 2009, o falecido colunista Mauro Chaves, ironizou a intenção de Aécio definir por prévias no PSDB quem seria o candidato. O jornal Serrista dispensou o protocolo e disparou um torpedo para derrubar a pré-candidatura de Aécio.
Divergindo da linha conservadora do jornal, o artigo insinuava uma suposta ligação de Aécio ao “Pó” (cocaína) para expô-lo, “de modo vulgar e dissimulado, o comportamento do rival de Serra e enviar -lhe um recado muito claro”.


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Serra ataca por meio do Estadão e…

O jornal Estado de Minas não engoliu o artigo do Estadão “Pó pará, governador”, ainda mais por acusar as relações entre os jornais mineiros e Aécio, comparando com São Paulo, onde Serra e e outros tucanos seriam, segundo o responsável pelo artigo, “cobrados” pelos jornalões de São Paulo. Por vingança e indignados, os mineiros repeliram “a arrogância de lideranças politicas que, temerosas do fracasso a que foram levados por seus próprios erros de avaliação, pretendem dispor do sucesso e do reconhecimento nacional construído pelo governador
Aecio Neves” já no início do editorial ”Minas a reboque, não!”, do Estado de Minas, em março de 2010, rejeitando um eventual papel subalterno de Aécio para enfrentar Dilma Rousseff.


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Aécio retruca pelo Estado de Minas: “Minas a reboque, não!”

Cenas dos próximos capítulos: a filha, o primo e ex-sócios de Serra Muitos outros personagens e maneiras de ganhar dinheiro surgem nos capítulos do livro que revela bastidores do episódio que, segundo o autor,foi um “assalto ao patrimônio público do país por meio das privatizações”. Mais sobre “a filha Veronica Serra, seu genro Alexandre Bourgeois, seu primo politico Gregório Marin Preciado, seus muitos sócios, seus amigos e seus
colaboradores. E outros tucanos de altos poleiros.”


“De 1999 a 2001, foi ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e embaixador do Brasil em Roma, entre 2001 e 2002. Em 2005, entrou na administração municipal de São Paulo como subprefeito da Sé na gestão de José Serra, Assumiu também, em 2006, a Secretaria Municipal de Serviços, como subprefeito da Sé e secretário (de Coordenação das Subprefeituras) na gestão de Gilberto Kassab. A partir de 2008, manteve-se apenas como secretário até o início de setembro de 2009, quando teve seu pedido de demissão aceito por Kassab. Atualmente é Secretário de Cultura do Estado de São Paulo, do Governo Geraldo Alckmin.” (Wikipédia) – foi acusado pelos movimentos sociais, incluindo pelo militante Padre Júlio Lancelotti de promover políticas de higienização social.
2 Marcelo Itagiba foi acusado na CPI das Milícias “de ter feito campanha na favela Rio das Pedras, em Jacarepaguá, durante sua gestão como Secretário de Segurança Pública, com apoio do grupo paramilitar que controla a região. O relatório final da CPI apontou que a ação das milícias cresceu enormemente durante sua gestão como Secretário de Segurança Pública.” (Wikipédia)